Hoje, no Dia Internacional da Mulher, parei para refletir sobre a presença feminina nas Instituições de Segurança Pública.

Inicialmente, fui buscar na minha memória o início da minha carreira policial e lembrar das mulheres com quem trabalhei, ombro-a-ombro, nas atividades de policiamento de rua. Lembro que, naqueles idos de 2003, muitos cidadãos ainda se surpreendiam em ver mulheres nas atividades policiais. Hoje, felizmente, isso já se tornou algo normal. Simbólico disso é o fato de que a PRF é, hoje, comandada por uma mulher, sem qualquer melindre por parte do efetivo da corporação, de predominância numérica masculina.
Fui dar uma olhada na história do tema e descobri que o primeiro ingresso de mulheres se deu na Guarda Civil de São Paulo, em 1955. Foi também em São Paulo que, pela primeira vez, uma Polícia Militar aceitou o ingresso feminino, em 1959. O Rio Grande do Sul somente abriu essa porta em 1986.
Dados interessantes também são encontrados num trabalho da SENASP intitulado “As Mulheres Nas Instituições Policiais“, que demonstra que apenas cerca de 18% do efetivo policial é composto por mulheres. Porém, o que chama a atenção é o maior peso relativo de mulheres nas Polícias Civis (30,4%) e nas Polícias Técnico-Científicas (38,6%) e o menor peso relativo nas Polícias Militares (12,3%). Também é esclarecedor o fato de que, nessas Instituições, apenas 56,7% dos homens têm ensino superior, enquanto 76,8% das mulheres o possuem.
Esses dados nos levam a algumas reflexões. Em primeiro lugar, nota-se que, até meados do século passado, o trabalho policial era exclusivamente masculino e que houve uma gradativa ocupação desse espaço pelas mulheres. Isso denota uma mudança no próprio direcionamento do trabalho policial: “A literatura consultada descreve que a entrada das mulheres nas Instituições de Segurança Pública, e particularmente nas forças policiais, teve como objetivo melhorar a relação das instituições com a sociedade. Afastar a imagem de truculência, corrupção e abusos que acompanham a história dessas instituições constituiria o efeito esperado dessa presença feminina nos quadros policiais” (SENASP, 2013). Ou seja, a atuação policial deixava de ser uma atuação eminentemente de força e de intimidação para, aos poucos, tornar-se uma atuação relacional com a sociedade, técnica e protetiva, paradigma que, possivelmente, atingiu seu ápice no Brasil com o PRONASCI. Nesse mesmo sentido pode-se explicar a maior presença relativa nas Polícias Civis e Técnico-Científicas e a menor presença relativa nas Polícias Militares, onde a imagem de necessidade de força ainda existe com maior vigor.
“…a entrada das mulheres nas […] forças policiais, teve como objetivo melhorar a relação das instituições com a sociedade”
Para finalizar, então, presto minha homenagem às mulheres das Instituições de Segurança Pública, que vieram trazer maior humanismo e técnica a essas Instituições, fortalecendo um novo paradigma de policiamento: o de proteção à sociedade, suplantando a ultrapassada visão de conflito com a sociedade. E se alguma voz ainda se levanta contra a presença de vocês, mulheres, nas atividades de policiamento, que ela seja calada pela certeza de que vocês vieram não só para ficar, mas para ocuparem um espaço cada vez maior e mais importante!!
“…a atuação policial deixava de ser uma atuação eminentemente de força e de intimidação para, aos poucos, tornar-se uma atuação relacional com a sociedade, técnica e protetiva”