Um dos principais problemas das grandes e médias cidades brasileiras é a questão da mobilidade urbana. Congestionamentos e dificuldades para encontrar vagas para estacionar causam grandes transtornos: horas desperdiçadas dentro dos carros, poluição, acidentes, estresse, assaltos, gastos sempre crescentes com construção e manutenção de vias, etc. A falta de mobilidade urbana causa perdas aos cidadãos, ao meio ambiente e aos cofres públicos. E muito pouco se vê de políticas públicas efetivas sobre esse tema.
Sobre isso, li o Relatório Final da Comissão Especial de Mobilidade Urbana da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, a qual, ao longo de 2013, estudou o assunto, realizou audiências públicas e foi conhecer in loco as experiências das regiões metropolitanas de Barcelona, Madrid e Lisboa. Esse Relatório, embora mais focado na questão metropolitana, trouxe questionamentos, visões, enfoques e ideias que podem ser aplicados às cidades.
“A falta de mobilidade urbana causa perdas aos cidadãos, ao meio ambiente e aos cofres públicos.”
Há duas perguntas, entrelaçadas, que precisam ser respondidas antes de qualquer debate sobre mobilidade urbana: 1) quem tem o direito de acessar à cidade? 2) mobilidade se refere aos veículos ou às pessoas?
Sobre a primeira questão, parece quase óbvio que a resposta é: todos! Porém, quando criamos uma cidade baseada no transporte motorizado individual (carros e motos), em que o deslocamento por ônibus é mais caro do que o deslocamento nesses veículos (caso de São Leopoldo) estamos dizendo que apenas quem possui carros e motos têm, efetivamente, o direito de acessar à cidade. Aqueles que não possuem tais veículos, estão relegados a se deslocarem apenas o imprescindível, que é o que o alto custo das passagens urbanas e a ausência de estrutura para modais não motorizados permite frente à pouca riqueza dessas pessoas, recusando-se a essas pessoas o direito a deslocamentos para eventos de lazer ou cultura, por exemplo.
Um caso concreto: uma pessoa que pega 1 ônibus para ir trabalhar e outro para voltar para casa ao final do dia gasta, em São Leopoldo, R$ 6,40 por dia; se ela trabalha nos 22 dias úteis (média dos meses), ela gasta R$ 140,80 por mês; se essa pessoa ganha 1 salário mínimo por mês – R$ 880,00 -, significa que ela gasta 16% de sua renda mensal em transporte. Isso é um absurdo!
Outro caso concreto: da minha residência até o centro da cidade, ida e volta de ônibus, eu gasto os mesmos R$ 6,40; se eu fizer o mesmo trajeto com o meu automóvel, eu gasto R$ 5,50, contanto combustível e manutenção. Agora imaginem se eu tiver de fazer esse deslocamento de ônibus com uma família de 4 pessoas!
Último caso concreto: se eu resolver fazer esse mesmo deslocamento de bicicleta, terei de disputar espaço com os veículos motorizados ou utilizar as poucas e mau sinalizadas e desprotegidas ciclovias (vide a da Avenida Imperatriz Leopoldina) ou, ainda, cometer uma irregularidade e trafegar pelas calçadas esburacadas, com degraus ou ausentes. E, ao chegar ao centro da cidade, não terei onde deixar a minha bicicleta estacionada com segurança.

Portanto, o atual modelo leopoldense de mobilidade só dá direito efetivo a acessar à cidade a quem possui automóvel ou motocicleta.
E a segunda questão já é respondida pela primeira questão: atualmente a mobilidade urbana de São Leopoldo está focada em movimentar carros e motocicletas. Contudo, não são os carros e as motocicletas que vivem, trabalham, estudam, divertem-se, vão ao médico, etc. São as pessoas! Por conseguinte, quem precisa se movimentar são as as pessoas e não os veículos!
Essa mudança de paradigma – dar acesso a todas as pessoas à cidade e movimentar pessoas e não veículos -, muda completamente a abordagem da questão da mobilidade urbana e nos abre uma imensa gama de possibilidades de construção de políticas públicas que conseguem fugir da lógica atual, baseada no automóvel e no alto custo das passagens de ônibus (a quem isso interessa?!)
“[…]não são os carros e as motocicletas que vivem, trabalham, estudam, divertem-se, vão ao médico, etc. São as pessoas!”
Vamos começar a refletir sobre isso! Já!
Artur, a reflexão é oportuna e necessária. É uma das minhas angústias, como cidadão, o descaso com essa questão. E eu começo pelo mais básico do básico: – as calçadas ou passeios públicos. É risco de vida ser pedestre nesta cidade! Não tem calçadas para se locomover… é preciso andar no meio da rua e estas cheias de armadilhas que são os buracos. É urgente um Plano de Regulamentação e Padronização das calçadas, seja na largura, no caimento, no tipo de pavimentação e no indevido uso desse espaço por lixeiras, placas, mesas, cadeiras, etc….. Aí vamos para as ciclovias, o transporte público…. – Parabéns pela reflexão.
Essa questão que colocas é realmente fundamental. Calçadas adequadas são condições primordiais de segurança. Precisamos, sim, criar uma política que contemple as calçadas, para que elas sejam realmente uma forma de locomoção das pessoas, tirando-as do risco de caminharem pelas ruas.